17 de fev. de 2013

O Mito do Amor-Paixão na Literatura do século XII. (Parte V)


O mito do amor-paixão não aparece apenas na literatura portuguesa. A prova de sua força latente na literatura ocidental é o seu aparecimento em literaturas de outros países europeus e mesmo no Brasil. Na Inglaterra, por exemplo, temos, no século XVI, a mais perfeita recriação do mito com a história de Romeu e Julieta, de Shakespeare, o mesmo ocorrendo em outros países, no transcurso dos séculos, como veremos mais adiante.
Na literatura Portuguesa encontramos, já no século XVI, a infeliz história de Inês de Castro, ocorrida no século XIV. O relato do trágico destino de Inês aparece na crônica de Fernão Lopes e, daí, penetra a literatura portuguesa, primeiramente com Garcia de Resende ( Trovas à morte de D. Inês). Depois, no século XVI, a história é retomada por António Ferreira ( Castro – tragédia em versos ) e por Camões, com o episódio de Inês de Castro em Os Lusíadas, apenas para citar os mais importantes. Do século XVI ao XVIII e deste até o século XX, as versões do drama de Inês se sucederam. Ao todo, foram escrita, em língua portuguesa, até os dias atuais, 204 composições sobre o drama amoroso de Inês de Castro e Pedro revivendo as lendas em torno de sua morte, consolidando a força do mito que a envolve
O mito do amor-paixão, nascido no século XII, supõe sempre, entre os amantes, um obstáculo, que pode ser social, religioso, ou político. O amor-paixão persegue uma impossibilidade e acaba por transformar-se numa determinação que justifica a própria existência. Todos os grandes amantes são atraídos para o abismo da experiência-limite, pensam possuir e serem possuídos através do máximo sofrimento e tentam satisfazer a necessidade humana de perenidade, compreender o ciclo da vida e reverter a morte. A paixão, portanto, na medida que pretende o impossível transgride o permitido e é sempre anti-social, embora se ligue à comunidade que lhe fornece o motivo ou pretexto de sua existência.
Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Abelardo e Heloísa, Pedro e Inês, querem muito mais que a satisfação de seus desejos. Eles querem o impossível: alcançar o infinito pela posse de um ser finito. Por isso o amor-paixão sempre conduz à morte.

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